Dólar atinge os R$ 4,06

- Chris Ratcliffe / Bloomberg News

RIO - O dólar registra nesta terça-feira sua maior cotação desde a criação do Plano Real, em 1994, ultrapassando a barreira dos R$ 4. O dólar comercial opera em alta de 1,75%, cotado a R$ 4,050 para compra e a R$ 4,052 para venda. Na máxima da sessão, a divisa já atingiu R$ 4,068. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações operam em forte queda, com 58 dos 64 papéis que compõem o Ibovespa em terreno negativo. O índice de referência Ibovespa recua 2,32%, aos 45.545 pontos, seguindo os mercados internacionais, que registram baixa intensa com incertezas acerca do crescimento global. As ações preferenciais da Petrobras chegaram a cair mais de 6%, atingindo a mínima de R$ 6,81 — menor cotação registrada durante um pregão desde agosto de 2003.

câmbio, se o dólar encerrar nesse patamar, será a maior cotação da História da moeda americana contra o real. Até então, o recorde do câmbio, em valores de fechamento, havia sido os R$ 3,990 registrados em 10 de outubro de 2002. Naquele mesmo dia, a moeda americana havia atingido a máxima durante a sessão de R$ 4,005, mas fechou abaixo dos R$ 4. Naquela ocasião, semanas antes do segundo turno das eleições presidenciais, os investidores do mercado financeiro temiam as implicações da possível vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, a valorização do dólar se dá em contexto político tenso. O Congresso decide na noite desta terça se derruba ou não os 32 vetos da presidente Dilma Rousseff a medidas que aumentam gastos e podem inviabilizar o ajuste fiscal. Entre eles está o veto ao reajuste médio de 56% aos servidores do Poder Judiciário. Com medo de derrota, o próprio governo articula o adiamento ou o esvaziamento da sessão. O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), defendeu o cancelamento da sessão.

— Além da valorização do próprio dólar devido a uma postura mais incisiva do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) quanto ao aumento de juros, a dinâmica de desvalorização do real tem sido muito rápida desde o rebaixamento da nota do Brasil promovido pela Standard & Poor’s. A questão é que fala-se há semanas de uma solução para o Orçamento mas nada de concreto foi feito. Isso vai pressionar o câmbio nos próximos meses — afirmou a turca Ipek Ozkardeskaya, analista do London Capital Group em Londres.

Ipek prevê que o dólar terminará o ano cotado entre R$ 4,20 e R$ 4,25.

— O Brasil pode evitar novos downgrades por outras agências, mas tudo depende da evolução das conversas sobre o Orçamento e a resolução das questões políticas. Mas, até agora, a dinâmica das discussões não tem sido favorável para o câmbio — acrescentou.